Aristides era um homem magro de poucas palavras, do tipo carcomido pela vida. Era dono de uma modesta banca de jornal e tinha uma coleção de facas em casa. Não comia vegetais e nem chocolates. Bebia dois litros de café por dia. Odiava crianças, principalmente aquelas que vinham em sua banca amassar e fazer orelhas nas páginas das revistas. Detestava dar informação para os transeuntes. Não tinha amigos. Não tinha animais de estimação. Não tinha parentes vivos. Nunca tivera uma mulher pela qual não pagara. Morava e trabalhava no bairro havia mais de vinte anos, e ninguém sabia nada dele além dessas duas coisas. Isso não o incomodava nem um pouco.
Renata tinha se mudado recentemente para a vizinhança. Estava chegando na casa dos quarenta, mas ainda era uma mulher e tanto com seus olhos verdes, generosas curvas e cabelos castanhos cortados curtos. Sempre que voltava da academia passava em frente da banca do Aristides; ela era daquele tipo que usa collants decotados, que quando sai da academia amarra na cintura uma blusa (para o deleite de todas as torcidas de todos os times que a desamarram mentalmente). Vez ou outra comprava alguma revista ou algum gibi para os seus filhos. Parecia estar sempre sorrindo seu lindo sorriso de dentes perfeitos. Exalava um delicioso aroma por onde passava.
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