Eu havia tido uma semana horrível. Perdera as chaves
de casa, fodera a lateral do carro numa viga invisível e
tivera um ataque de pânico durante uma
pane no vagão do trem do metrô…
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E então nós estávamos no bar e antes da sétima garrafa de cerveja
eu já tinha começado a passar mal. Muito mal.
Mas muito mal mesmo.
Devia ter algo a ver com os remédios que eu estava
tomando — na bula de um deles constava que “…o uso de álcool juntamente
com este medicamento pode causar hemorragias internas”.
Claro que eu vinha achando era balela até então.
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Pagamos a conta e saímos.
Durante o caminho de volta para casa eu tive que
ficar parando o carro pra vomitar nos postes e arbustos e atrás
dos veículos estacionados. Mas não havia sangue no meu vômito. Havia
apenas pedaços
de frango a passarinho e bile e alguma outra porcaria.
“Você tá bem?”, ela quis saber.
“Não… acho que estou morrendo.”
“Eu posso dirigir se você quiser.”
“Ah, tá.”
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Quando chegamos em casa transamos antes de tomarmos banho.
Foi bom.
Foi a melhor foda em anos.
Não foi como fazer vinte minutos de bicicleta ergométrica.
Depois bebemos água, fumamos cigarros e ela contou
quantos pelos brancos eu tinha na barba. Segundo ela, o total dava vinte e sete.
“Ei, eu tenho vinte e sete anos”, eu disse.
“Não, você tem vinte e sete barbas”, ela respondeu.
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E então, pela primeira vez naquela semana de bosta, eu sorri.
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Gilberto Sakurai “O Maldito Escritor” – 21/01/2012